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01-06-2014
Elen de Moraes Kochman
Enfim, mais um santo brasileiro – o terceiro: São José de Anchieta!
Mesmo sem a comprovação tradicional dos milagres exigidos para tal, pela
dificuldade do tempo que passou, o Papa Francisco, depois de ouvir um relatório
sobre a sua vida e sua obra, assinou o decreto de canonização do Padre José de
Anchieta. Desse modo encerra-se o longo processo iniciado logo após a morte do
Jesuíta, em 1597. Agora, poetas, professores, escritores, dramaturgos, etc., se
acreditam em milagres, já têm um santo para suas “causas”, porque de acordo com
as biografias sobre o Padre Anchieta, ele, também filólogo, exercia todas essas
profissões, além do sacerdócio, na catequese dos índios.
Temos poucos Santos se levarmos em conta a importância e a influência
que teve a Igreja Católica desde o descobrimento e colonização do Brasil: o
primeiro ato que oficializou a descoberta das novas terras foi a celebração de
uma missa, por Frei Henrique de Coimbra. Difícil imaginar o crescimento do
nosso país durante sua colonização, sem a ajuda dos missionários católicos. A
maioria das cidades brasileiras foi construída em volta de uma igreja. Ainda
hoje a maior parte dos feriados é em homenagem a algum Santo e o Catolicismo
continua a ter o maior número de seguidores entre as religiões aqui
professadas. Tal predominância é em decorrência da presença da igreja Católica
na nossa formação histórica.
E não podemos falar em colonização e em missionários católicos, sem nos
lembrarmos do Padre José de Anchieta, o “Apóstolo do Brasil”, como ficou
conhecido. Nascido em Tenerife, nas ilhas Canárias, de pai espanhol e mãe
judia, por volta dos 14 anos foi enviado a Portugal para estudar. Matriculou-se
no Colégio das Artes pertencente à Universidade de Coimbra e foi durante seus
estudos de Filosofia, em contato com os Jesuítas, que se apaixonou pela causa
da Companhia de Jesus, tornando-se um deles. Aos 19 anos, ainda noviço, ao
invés de seguir para o oriente, como fazia a maioria dos Jesuítas, foi enviado pelo
próprio Inácio de Loyola, fundador da Ordem, à colônia brasileira, na comitiva
do Governador Geral Duarte da Costa, em 1553.
Desembarcou em Salvador, Bahia, e logo depois de uma breve adaptação,
seguiu para a capitania de São Vicente e em seguida para o planalto de Piratininga.
Ali ajudou na fundação do colégio São Paulo, cujo nome foi em homenagem ao dia em
que se comemorava a conversão do Apóstolo Paulo. Esse colégio foi o marco
inicial da atual cidade de São Paulo.
Padre José de Anchieta teve outras importantes participações nos acontecimentos
históricos no Brasil, como a criação de vários colégios; a pacificação dos
índios Tamoios que, revoltados com a escravização dos indígenas, se aliaram aos
franceses contra os portugueses. Padre Anchieta se entregou como refém,
enquanto a paz era negociada. Durante os quatro meses que passou com os Tamoios,
escreveu nas areias da praia os inúmeros versos latinos que compõem o “Poema à
bem-aventurada Virgem Maria”, decorando-os enquanto os escrevia. Só conseguiu
passá-los para o papel ao retornar a São Vicente, com os Tamoios já
pacificados.
No Rio de Janeiro ajudou na fundação do Colégio dos Jesuítas e na Casa
de Misericórdia. Tornou-se o primeiro linguista da cultura brasileira,
aprendendo a língua dos índios Tupis. Escreveu a primeira gramática dessa
língua e os primeiros textos artísticos, peças teatrais e música popular, tanto
em Tupi, quanto em português, latim e espanhol. Foi considerado
como o primeiro escritor brasileiro, o fundador do teatro no Brasil e o primeiro
professor.
São José de Anchieta, entretanto destacou-se, sobretudo, como Missionário.
Irrequieto, percorreu várias vezes o litoral brasileiro, indo de Pernambuco a
São Paulo, fundando diversos centros missionários. Mais tarde, sentindo-se
cansado e doente, pediu licença do cargo de Provincial, para o qual fora
nomeado com a morte de Padre Manuel da Nóbrega e retirou-se para Reritiba, capitania
do Espírito Santo, hoje chamada Anchieta em sua homenagem, fundada por ele, e
ali viveu entre os seus queridos índios até 1597, quando faleceu, aos 63 anos.
Suas relíquias foram enviadas ao Vaticano, em 1611, visando sua canonização.
Foi beatificado pelo Papa João Paulo II, em 1980 e agora canonizado pelo Papa Francisco.
Trechos do seu poema à Virgem Maria:
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“Da torrente que jorra até a vida eterna!
Esta ferida, ó mãe, só se abriu em teu peito:
quem a sofre és tu só, só tu lhe tens direito.
Que nesse peito aberto eu me possa meter,
possa no coração de meu Senhor viver!
Por aí entrarei ao amor descoberto,
terei aí descanso, aí meu pouso certo!
No sangue que jorrou lavarei meus delitos,
e manchas delirei em seus caudais benditos!
Se neste teto e lar decorrer minha sorte,
me será doce a vida, e será doce a morte!”
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