Elen de Moraes Kochman
O primeiro dia deste novo ano amanheceu com cara de fim de festa para quase metade do povo brasileiro que não votou na candidata que, reeleita, adquiriu o direito de nos governar por mais quatro anos. Se democracia é aceitar a vontade da maioria, a razão acata a decisão, embora o coração se quede inconformado, muito pela corrupção, pelos desmandos da maioria dos nossos políticos e um pouco pela certeza de que tudo que já estava ruim vai piorar. Não é pessimismo, é pisar o solo da realidade. Ó “meu Brasil brasileiro, terra de samba e pandeiro”, ACORDA! Aliás, vem aí o carnaval, para distrair, de vez, a moçada e fazê-la esquecer dos “assaltos” aos cofres públicos, principalmente os da Petrobrás, da inflação, dos aumentos dos impostos, dos combustíveis, da energia elétrica, etc. Até quando “Brasil do meu amor, terra do Nosso Senhor”, permitirás que as gentes humildes da tua terra, sofram com a falta de hospitais, segurança, educação, comida e a com seca que castiga o nordeste, agora também no sul, onde antes havia fartura da água que hoje anda escassa? Até quando “meu Brasil lindo e trigueiro” consentirás que os teus pobres e/ou analfabetos continuem trocando as migalhas que recebem dos políticos, por votos, ao invés de exigirem dignidade e empregos, honestidade e verdade de quem colocam no poder? Eles não têm culpa! Refiro-me aos carentes, sem acesso à informação dos jornais, revistas, internet ou outro tipo de comunicação, porque para os alienados políticos, isto é, para os que não se interessam pelas questões politicas ou sociais, que preferem ver na televisão somente novelas, com suas histórias açucaradas, ou a violência mostrada em programas vespertinos, não há desculpa. Nada contra os que incluem nos seus momentos de lazer, tais programas, mas que reservam tempo para os educativos e para a leitura de um bom livro. E nada como uma boa leitura para abrir horizontes. Melhor só mesmo viajando em busca! Como seria bom se o povo buscasse e tivesse na leitura motivos de prazer, não para seguir ideias e sim formar as suas próprias e ter uma visão coerente com a verdade e a justiça, sem engolir as mentiras que lhe empurram goela abaixo – ou pensam que empurram! Bom seria, também, uma imprensa totalmente livre, compromissada com a verdade e não com a notícia maquiada, ou omitida, em troca das benesses dos anunciantes governamentais. Dizem que o brasileiro é preguiçoso e não gosta de ler. Há exagero nessa afirmação. Creio que a maioria não foi estimulada a ler desde a infância. Os livros são caros e não sei de nenhuma politica do governo de implantação de bibliotecas em quantidades suficientes para atender a população. E se os pais não gostam de ler, não têm como passar para os seus filhos esse prazer. Por outro lado, muitas escolas, talvez seguindo “Programas de Educação”, impõem às crianças a leitura de livros muito antigos, escritos numa linguagem incompreensível, rebuscados, longe da realidade desses jovens alunos. Além de não entenderem o que estão lendo, tomam pavor aos livros. A leitura precisa ser incentivada, entretanto a escolha do que ler deveria ser de cada um, orientados pelos Professores ou pais. Mais tarde leriam os clássicos, porém nunca por imposição quando tão jovens. “O momento da leitura tem que ser visto como uma hora de diversão; associar o hábito a uma obrigação fará com que a criança tenha a sensação de que está sendo punida, e assim dificilmente desenvolverá o prazer que a leve a inserir a leitura em sua rotina”, explica Paulo Ramicelli, do projeto “Ler é uma viagem”. O amor à palavra escrita e falada, aos livros e a todo tipo de leitura, nasce dessa liberdade. O diretor da escola onde cursei o ensino fundamental, um Padre moderno para a época, com visão progressista, dizia que o Professor é um Orientador e os alunos responsáveis pela riqueza e diversificação do próprio aprendizado. Os benefícios da leitura são muitos: estimula os mecanismos mentais pelos quais nos valemos para utilizar nossa memória, razão, raciocínio, além de incentivar a criatividade e enriquecer nosso intelecto. Além de tantas dificuldades, há, também, o preconceito sobre incentivar determinadas leituras. Os machistas, exemplo, dificilmente admitem nos seus filhos o gosto pela poesia e se o garoto mostra dom para escrevê-la, o mínimo que ele escuta é que “isso não dá dinheiro” – imagina quando ouve o máximo! – no entanto, a filha pode escrever, mas só até se casar e o marido proibir por achar que ela escreve para outros homens (ainda bem que nem todos os maridos são retrógrados) e isso quando a própria sociedade não diz o mesmo! Que seria da poesia se os grandes autores, homens e mulheres, tivessem dado ouvidos à tamanha mediocridade? “O poeta é um fingidor” Elen de Moraes Nessas noites solitárias, quando revivo cada sonho que permiti amanhecer, cada paixão que inventei... só para escrever versos tórridos de algum poema explosivo; quando ao coração proibi deixar-se cativo dos amores que fingiam bem me querer, quando desisti de viver só por viver, pelo cansaço que se me fez persuasivo, entendi que na vida tudo tem um preço... Lúcida, de bom grado, aceitei a amargura do licor, do cálice que bebo... E agradeço, cada dia, viver essa grande aventura: fantasiar a vida em cada recomeço; reinventar-me na “transparência da loucura”. |
Citações:
"O poeta é um fingidor"=- F.Pessoa
"Meu Brasil Brasileiro...", "...terra de nosso Senhor", "...lindo e trigueiro"= Aquarela do Brasil
"Transparência da loucura"= Antero de Quental