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O Gigante acordou!
Dei trégua ao tempo, deixei assentar a poeira das passeatas que aconteceram – e ainda acontecem – nos últimos trinta dias, pelo Brasil, para entender o que estava à frente ou por trás do movimento e só então falar a respeito. E começo pelo adoecimento da euforia com o Brasil do futuro, quando a insatisfação tomou o lugar da esperança e vimos o “salvador da Pátria”, o ex-presidente Lula (e o seu partido, que era a voz da oposição), se aliar aos seus inimigos políticos, corruptos, como ele os execrava em seus comícios, para ter grande maioria no Congresso e aprovar, assim, tudo o que o governo “precisasse”, o que nos fez perder a confiança nos políticos, de modo geral. O povo ainda o reelegeu e elegeu a sua sucessora. Entretanto, o descontentamento da população – com a falta de investimentos nas nossas necessidades básicas e não só, e por outro lado o dinheiro que se gasta com 39 ministérios e os que neles trabalham; os políticos se dando aumentos de salários de mais de 60%, quando os trabalhadores e aposentados recebem aumento muito pequeno; o dinheiro dado a países para construírem estradas e reformar aeroportos, quando os nossos não recebem investimentos – era a tônica das conversas entre familiares e amigos. E vieram os protestos pelas redes sociais e através de e-mails, porém como tantos, eu também acreditava que o brasileiro só saía da sua zona de conforto para o carnaval e o futebol, embora já não pudéssemos suportar o que nos saltavam aos olhos: a roubalheira, a corrupção, políticos condenados que ainda ocupam seus cargos, a gastança desenfreada do dinheiro público pelos políticos e seus familiares, em viagens de férias, os “mensaleiros”, etc. Como disse o Hélio de La Peña, num artigo postado no Estadão: “Conseguimos, enfim, derrubar a direita e colocar a esquerda no poder. E o que se viu? A maior sequência de escândalos e corrupção da nossa história” E foi entre surpresos e desconfiados que vimos nossos jovens saírem às ruas, exigindo, no primeiro momento, que o governo retrocedesse no aumento das passagens de ônibus, trens e metrô. Nos dias que se seguiram, as reivindicações se avolumaram em torno de tudo que estava errado, inclusive o custo altíssimo - dizem que superfaturado - das obras dos estádios de futebol, para a copa do mundo de 2014, quando a nossa prioridade era e é saúde, educação e segurança. E esse foi o motivo das estrondosas vaias que receberam o dirigente da FIFA e a Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, por ocasião da inauguração do estádio Mané Garrincha, de Brasília, na abertura da Copa das Confederações. O mundo se espantou, mas não se furtou em noticiar. Verdade que o movimento nas ruas começou com reivindicações pelo “passe livre” nos transportes, em diferentes datas e em diversas cidades do Brasil. No entanto, o aumento de vinte centavos nas passagens, em São Paulo e no Rio de Janeiro, foi a gota d’água que levou dezenas de milhares de jovens a cobrarem, em passeatas, a reversibilidade do aumento. Por causa dos baderneiros “infiltrados” nas passeatas, a repressão e a truculência policial foi intensa e, por isso, dois dias depois o povo ocupou, novamente, as ruas e dessa vez tinha a seu lado gente de todas as idades (inclusive em outros países), exigindo que os políticos atentassem para os seus deveres, sem conchavos, e ouvissem o clamor da voz de um povo cansado de ver a corrupção matar seus ideais e de constatar que os escrúpulos são jogados para debaixo dos tapetes, onde os mesmos políticos pisam e desgastam os sonhos dos que esperam viver numa Pátria mais justa, séria, honesta, desenvolvida e acolhedora. Gerações lutando por melhores tempos, intimando a Presidente Dilma a cumprir as promessas de campanha, feitas quando quis chegar ao poder; pessoas determinadas a terem os seus direitos respeitados, cobrando um país onde as leis sejam cumpridas e não só os pobres paguem pelos seus crimes. A esse clamor juntou-se o da nova classe média e o dos que já não se contentam com a “bolsa família” (ajuda financeira que o governo dá aos “pobres”, ao invés de providenciar empregos) e agora exigem muito mais dessa dita “justiça social”. Governo, oposição, antropólogos, cientistas políticos, jornalistas, etc., no primeiro instante não entenderam os motivos das reivindicações e passeatas, e o pior, não sabiam com quem negociar, porque o movimento não tinha líderes e a multidão não queria partidos políticos - nem sindicatos - se aproveitando do acontecimento, com fins eleitoreiros. O distanciamento dos partidos não significou falta de interesse político (nem fascismo, como disseram muitos) e sim desilusão com o atual sistema. O Congresso fez o mea culpa, a Presidente recebeu diversos segmentos da sociedade, reuniu-se com aliados e assessores, expôs ideias, mas de concreto ainda não atendeu nenhuma reivindicação. Alguns governantes retrocederam no aumento das passagens. O Gigante acordou e não pensem que está cochilando: já está marcando o retorno na primavera. Por agora está dando uma trégua pela vinda do Papa, acreditam muitos, embora ninguém tenha certeza de nada. Elen de Moraes Kochman |
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