Edição 1º de março de 2014
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Copa do mundo:
sonhos e pesadelos
Elen de Moraes Kochman
Grande
tem sido o empenho para que a Copa do mundo ocorra na santa paz e até o Papa
Francisco, há alguns dias, ao receber Dilma Rousseff, foi convidado a
assisti-la, convite que declinou em virtude de já possuir agenda fechada com
outros compromissos, para essa data. Na ocasião, o Sumo Pontífice ganhou da
Presidente do Brasil, um uniforme da seleção, assinado pelo Pelé e uma bola,
assinada pelo jogador Ronaldo. O Papa retribuiu com uma medalha que representa
“O anjo da paz” e brincou dizendo que ao receber os presentes se sentia
convidado a rezar para que o Brasil vença o mundial e ela devolveu a
brincadeira pedindo que ao menos ele ficasse neutro.
Essa
copa tem tirado o sossego de muita gente! Como brasileira, no primeiro momento
fiquei feliz por terem escolhido o Brasil para sediá-la. Um sonho que o povo não
ousava sonhar, mas acalentava desde 1950, quando Ghygya, jogador do Uruguai, já
quase no final do segundo tempo, calou mais de 200 mil torcedores no Maracanã,
com o gol que deu ao seu país o título de campeão mundial, naquele ano. Infelizmente,
para todo sonho bom, o despertar é violento, porque nos mostra que a realidade
é dura, nem sempre agradável e quando se transforma em pesadelo, então, dá
vontade de voltar para a cama, dormir de novo e retomá-lo, como se fosse
possível continuar do lugar onde paramos e não mudar o rumo dos devaneios.
Pois
é! Foi assim que o nosso sonho de sediar o mundial de futebol “lascou-se”, como
diz com muita propriedade e humor, o cearense. Nossos governantes deveriam ter voltado
suas atenções, primeiro para as necessidades básicas do povo, que reivindicadas
têm sido há décadas, e deixado de lado, mais para o futuro, os mirabolantes sonhos.
Talvez a intenção do então Presidente Lula - por isso tanto se empenhou - fosse
passar à história como “aquele” que conseguiu que o Brasil fosse escolhido como
anfitrião da copa, mas não imaginou, deduzo, por um momento sequer, que ela ficasse
conhecida como a mais cara e superfaturada de todos os tempos, além da
desconfiança sobre propinas e corrupção, conforme pesquisa publicada pela revista
Veja.
O
pesadelo para eles foi acordar com as passeatas contra a Copa, no ano passado -
que indicavam esgotamento da paciência dos
brasileiros e o “recado” de que enganação tem limites - sem enxergar uma “luz
no fim do túnel” que indicasse um caminho, que sugerisse medidas a tomar e convencesse
o povo a deixar as passeatas para depois do evento, como ousou pedir o “Rei
Pelé”. Ou, por outra, mesmo que apareça uma “luz no fim do túnel”, eles só
saberão se se trata de um carro na contra-mão - ou não - depois, vendo de perto
os acontecimentos, ou seja, o jeito é realizar o “mundial”, tomar todas as
providências sobre a segurança, e ver como fica. Ou rezar! Rezar muito, para
que o povo, cansado de esperar por hospitais, escolas e segurança nas ruas, se
conforme, uma vez mais, e fique quietinho diante da “gastança” que fizeram com os
estádios, cumprindo as exigências da FIFA, em detrimento das classes desfavorecidas,
que não terão dinheiro para comprar os caros ingressos. Infelizmente, alguns
ídolos desse esporte deram declarações, querendo minimizar o problema, que, no
entanto, só fizeram acirrar o descontentamento da maioria dos brasileiros, como
exemplo a declaração do jogador Ronaldo que, com seu “jeitão inocente”, falou
que “copa do mundo se faz com estádios e não com hospitais”.
Sim,
claro, copa de futebol se faz com modernos estádios, ótimos aeroportos, hotéis,
portos, transportes públicos e “também” com bons hospitais. E com um povo
receptivo e gentil. Pois que venham os turistas, sem medo! O brasileiro é
cortês, amigável e educado.
Por
outro lado, espera-se dos nossos governantes, que se comprometeram a sediar uma
festa com as proporções de uma copa do mundo, excelente infra-estrutura, grande
organização e transparência, que sirvam de orgulho para nossa nação e desmentido
para os que dizem lá fora, que “o Brasil não é um país sério” - frase atribuída
ao francês Charles de Gaulle, porém dita em tom de brincadeira pelo Embaixador
brasileiro na França, àquela época, o Sr Carlos Alves de Souza, durante um jantar com o General,
como ele mesmo afirmou. Mas isso é outra história!
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