Tribuna Portuguesa de 1º/08/2014
Um povo surpreendente -
Uma seleção nem tanto! -
Elen de Moraes Kochman
Não há nada que um bom
apreciador de futebol não tenha, ainda, se inteirado sobre a Copa de 2014. Portanto não farei comentários sobre as seleções, quem jogou bem (ou bem
mal), até porque desse esporte e suas regras pouco entendo. Entretanto vale
lembrar o silêncio mortal que se abateu sobre o país nos momentos em que a
seleção brasileira apanhava de inacreditáveis 7 x 1 da Alemanha. Tudo bem
perder, já que nosso time, como diziam, não estava à altura de competir com os
melhores, pela taça, mas aqueles gols, um atrás do outro, cinco em poucos
minutos, pareciam “coisas do cão”! E doeu! Doeu muito! Para os que desejavam se
livrar da lembrança do desastre de 1950 e exorcizar os fantasmas, vão amargar
esse trauma por um longo tempo, além de suportarem as gracinhas - sem graça -
dos “Hermanos” argentinos.
E se algum político brasileiro
pretendia pegar carona no sucesso dessa nossa Seleção de Futebol, para se dar
bem nas próximas eleições de outubro, teve que cavar, de acordo com as
pesquisas, uma sepultura digna para os seus sonhos e digerir o pesadelo da uma
provável derrota, pelo menos por enquanto, nos gramados da política.
Aqui entre nós (e a torcida do
Flamengo), fale quem quiser e reclame quem se achar no direito e no dever,
porém o povo brasileiro é mesmo surpreendente: não que tenha feito muito
barulho por nada, não! Fez passeata contra a realização da copa, insatisfeito
com os gastos e o superfaturamento na construção dos estádios, em detrimento da
construção de escolas, hospitais e da segurança, assustando o mundo inteiro que
passou a profetizar o caos durante o torneio; deixou a FIFA em polvorosa com os
iminentes prejuízos, já que não se falava em outra coisa a não ser na isenção
de impostos dada pelo Governo, que ela negava veementemente, afirmando não ter
pedido nada, deixando entender que havia detalhes obscuros a serem esclarecidos;
além das reclamações compartilhadas nas redes sociais, sem deixar de mencionar,
infelizmente, os “black blocs” que, inicialmente, participaram do protesto de
forma pacífica, mas que acabaram por depredar o patrimônio público e privado,
incendiar ônibus e viaturas policiais, instalando o terror ao usar coquetéis
molotov, motivo pelo qual muitos estão
presos e outros foragidos, com mandato de prisão.
Pois bem, esse mesmo povo, que
assombrou os governantes e os responsáveis pela segurança, ao iniciar a copa
deixou de lado os problemas internos, que só a nós, brasileiros, dizem
respeito, e mostrou ao mundo, novamente, o nosso jeitinho carinhoso, educado e
festeiro de receber os turistas. O que mais chamou a atenção dos nossos visitantes foram a festa e a alegria que reinavam por todos os lugares. Se
entrevistados, enalteciam a simpatia do nosso povo, a torcida em campo e mesmo
quando o Brasil perdeu, se acharam que nos fecharíamos em lamentos e lágrimas
eternas, enganaram-se: enxugamos nosso pranto, ensaiamos nosso melhor sorriso
amarelo, e fomos torcer! Para quem? Acredite se quiser, porém fomos torcer,
sim, para quem nos tirou da copa de maneira tão humilhante: a Alemanha! Claro,
porque torcer pelos “Hermanos” argentinos, jamais! Se se consagrassem campeões
no nosso “Templo” do futebol, o Maracanã, iriam nos infernizar com suas
brincadeiras por séculos e séculos.
Os alemães nos conquistaram
desde o início, com o seu marketing: queriam ser o segundo time mais popular da
copa no Brasil e numa “grande sacada” envolveu o Flamengo, time com maior
torcida por aqui. Criaram uma camisa rubro-negra e com ela jogaram duas vezes; bombardearam
as redes sociais pedindo para que torcêssemos por eles; declaravam
constantemente o quanto estavam agradecidos ao Brasil por termos feito a “copa
das copas” (sinceramente, acho exagero). E foram além das palavras: idealizaram
e financiaram um projeto social para os menores no Brasil, chamado “Sonhos de
crianças” (15 ao todo), com 500 mil euros investidos; com a organização do “Campo
Bahia”, eles bancaram a reforma do campo
de futebol do vilarejo e doaram 10 mil euros para os índios da Aldeia Pataxó,
de Coroa Vermelha, para comprarem uma ambulância. E digno de nota foi a dança
indígena que a Seleção tetracampeã fez em volta da Taça, ao desembarcarem na
Alemanha.
Os alemães colocaram Santa
Cruz Cabrália, Bahia, no mapa turístico do planeta, depois de conviverem - por
mais de 40 dias - com pescadores e índios, nessa pequena aldeia (e mostrá-la ao
mundo através de vídeos), um ilhéu chamado Coroa Vermelha, na baia Cabrália,
onde Cabral, em 1500, ancorou suas naus, ao descobrir o Brasil.
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