Rio de janeiro , 1935
Vinicius de Moraes
Eu deixarei que morra em mim
o desejo de amar os teus olhos que são doces
o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa
de me veres eternamente exausto.
de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença
é qualquer coisa como a luz e a vida
é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto
e em minha voz a tua voz.
e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser
tudo estaria terminado
tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados
como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
como uma nódoa do passado.
como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... Tu irás
e encostarás a tua face em outra face
e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos
e tu desabrocharás para a madrugada
e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
Porque eu fui o grande íntimo da noite,
Porque eu encostei minha face na face da noite
e ouvi a tua fala amorosa,
e ouvi a tua fala amorosa,
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa
suspensos no espaço
suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência
do teu abandono desordenado.
do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros
nos portos silenciosos
nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém
porque poderei partir
porque poderei partir
E todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas,
do vento, do céu, das aves, das estrelas,
Serão a tua voz presente,
a tua voz ausente,
a tua voz serenizada.
a tua voz ausente,
a tua voz serenizada.
2 comentários:
Lindo lindo esse poema....me traz lembranças do passado....triste
Obg por comentar! E por gostar, mesmo sendo triste.
Mas amar é isso: nunca somos amados do jeito que merecemos e precisamos... e o que se salva dos amores impossíveis, é que são para a eternidade, pq não foram vividos, portanto não se desgastaram...
Postar um comentário