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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

EM CIMA DO MURO, E DAÍ? - Elen de Moraes


Se preferir, poderá ler o artigo no jornal online,
edição de 15-02-2011, no link abaixo:
http://www.tribunaportuguesa.com



Em cima do muro... E dai?


Elen de Moraes Kochman





E daí, o assunto é delicado! O que para alguns pode parecer falta de atitude ou desapreço, para muitos é só uma questão de opção, de agir consoante a sua consciência, de disponibilidade e, sobretudo, de não perder o foco daquilo em que se acredita. Por outro lado, não devemos nos acomodar diante das injustiças sociais, calarmos em face dos desmandos que presenciamos e, por medo ou preguiça, deixarmos que pessoas sem gabarito, despreparadas, decidam o que devemos ou não fazer. Li em algum lugar - e concordo - que “precisamos deixar de ser atores de nossas próprias vidas e agir como autores, mostrando que mesmo sendo árdua, a luta por dias melhores vale a pena! Que vivemos num tempo de possibilidades, não de determinismo”.

Entretanto, nos dias atuais cobram-nos posições, engajamentos e escolhas como se fossemos obrigados a ter pensamentos coletivos, como se a sociedade fosse dividida em sindicatos e tivéssemos que nos filiar a algum, para bem viver e defender suas propostas com unhas e dentes. Há um patrulhamento que nos exige participações e preferências, como se não possuíssemos vontade própria e como se fosse regra ter que aprender (e repetir como um papagaio) só aquilo que lhes interessam. 

Cobram-nos eleger um lado pelo qual lutar; adotar um partido politico e a ele ser fiel; uma modalidade de esporte para amar e torcer; bandeiras (a favor do quê e de quem) levantar; amigos pelos quais brigar, estejam certos ou errados; causa de qual país abraçar, e muito mais! E se não nos decidimos rápidos e ocupamos logo as “trincheiras” que nos reservam, somos acusados de ficar em cima do muro. Acusação dita - e olhada - num tom de menosprezo, como se agir assim fosse proeza de cidadãos sem categoria, omissos e egoístas. 

Faz-me lembrar a candidata Marina Silva, acusada de ter ficado em cima do muro por não ter escolhido apoiar nenhum dos dois candidatos que disputaram a Presidência do Brasil, no segundo turno, por achar, quem sabe, que nenhum dos dois preenchia o perfil do Presidente que desejava para o País ou por estarem em desacordo com as causas pelas quais lutava. Essa atitude, talvez, tenha mudado os rumos da sua vida politica e do nosso Brasil, porém, se decidiu não apoiar ideias que nada tinham a ver com as que defendia e nas quais acreditava, por que condená-la? Embora eu tenha torcido muito para que ela trocasse o verde do seu Partido pelo azul do meu candidato, aceitei a sua decisão e, para dizer toda a verdade, admirei sua firmeza por não ter cedido às pressões. 

Também não estou levantando a bandeira de cruzarmos os braços e não ajudar quando se faz necessário, de não participarmos da comunidade da qual fazemos parte, de fecharmos os olhos para o que acontece à nossa volta e carece de atenção, do que exige nosso amor e cuidado para com o nosso semelhante, de repartir, de dar socorro a quem solicita... Não! Estou defendendo o direito de quem quer ficar de fora quando o momento exigir calma e reflexão, o de ir à luta quando achar que é a hora, mesmo que não seja para ficar de nenhum lado e, sim para costurar a sua própria bandeira.

Os mineiros (nascidos em Minas Gerais), têm a fama de estar sempre em cima do muro. Injustiça: fui criada entre eles e sei que é um povo calado, observador, desconfiado, que dificilmente mete os pés pelas mãos, mas age quando o momento exige, como explica o escritor Roberto Drumond: “Os invejosos, os que não receberam a dádiva divina de em Minas nascer, gostam de folclorizar o mineiro. Aí dizem: O mineiro está sempre em cima do muro! Mas eu pergunto: Tiradentes estava em cima do muro? Mais uma vez pergunto: Juscelino, que enfrentou os militares, que vetaram sua candidatura, e depois foi cassado, aprisionado, exilado, alguma vez esteve em cima do muro?” 

O que é “ficar em cima do muro”? É não aceitar imposições sobre ideias e ideais? É ter vontade própria? É poder escolher e repensar o momento da decisão? É ter dignidade e educação? É não comprar brigas alheias por não reconhecer nelas motivos válidos para “bater boca” e, de sobra, ainda ser apontado como criador de confusão, além de ganhar inimigos? É renunciar,  por amor aos filhos e à família? Ora, temos livre arbitrio para aceitar ou não as oportunidades e/ou problemas que batem à nossa porta e arcar com as responsabilidades das decisões tomadas. Que os “patrulheiros de plantão” nos atirem todas as pedras, mas, não conseguirão abalar o alicerce do nosso respeito à liberdade de escolha e  de vida.

Um comentário:

Regina Romeiro disse...

Aplausos Elen, excelente texto!

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