Se preferir, poderá ler o artigo no jornal online,
edição de 15-02-2011, no link abaixo:
http://www.tribunaportuguesa.com
Em cima do muro... E dai?
Elen de Moraes Kochman
E daí,
o assunto é delicado! O que para alguns pode parecer falta de atitude ou
desapreço, para muitos é só uma questão de opção, de agir consoante a sua
consciência, de disponibilidade e, sobretudo, de não perder o foco daquilo em
que se acredita. Por outro lado, não devemos nos acomodar diante das injustiças
sociais, calarmos em face dos desmandos que presenciamos e, por medo ou
preguiça, deixarmos que pessoas sem gabarito, despreparadas, decidam o que
devemos ou não fazer. Li em algum lugar - e concordo - que “precisamos deixar de
ser atores de nossas próprias vidas e agir como autores, mostrando que mesmo
sendo árdua, a luta por dias melhores vale a pena! Que vivemos num tempo de
possibilidades, não de determinismo”.
Entretanto, nos dias atuais
cobram-nos posições, engajamentos e escolhas como se fossemos obrigados a ter
pensamentos coletivos, como se a sociedade fosse dividida em sindicatos e
tivéssemos que nos filiar a algum, para bem viver e defender suas propostas com
unhas e dentes. Há um patrulhamento que nos exige participações e preferências,
como se não possuíssemos vontade própria e como se fosse regra ter que aprender
(e repetir como um papagaio) só aquilo que lhes interessam.
Cobram-nos
eleger um lado pelo qual lutar; adotar um partido politico e a ele ser fiel; uma
modalidade de esporte para amar e torcer; bandeiras (a favor do quê e de quem)
levantar; amigos pelos quais brigar, estejam certos ou errados; causa de qual
país abraçar, e muito mais! E se não nos decidimos rápidos e ocupamos logo as
“trincheiras” que nos reservam, somos acusados de ficar em cima do muro.
Acusação dita - e olhada - num tom de menosprezo, como se agir assim fosse
proeza de cidadãos sem categoria, omissos e egoístas.
Faz-me lembrar a
candidata Marina Silva, acusada de ter ficado em cima do muro por não ter
escolhido apoiar nenhum dos dois candidatos que disputaram a Presidência do
Brasil, no segundo turno, por achar, quem sabe, que nenhum dos dois preenchia o
perfil do Presidente que desejava para o País ou por estarem em desacordo com as
causas pelas quais lutava. Essa atitude, talvez, tenha mudado os rumos da sua
vida politica e do nosso Brasil, porém, se decidiu não apoiar ideias que nada
tinham a ver com as que defendia e nas quais acreditava, por que condená-la?
Embora eu tenha torcido muito para que ela trocasse o verde do seu Partido pelo
azul do meu candidato, aceitei a sua decisão e, para dizer toda a verdade,
admirei sua firmeza por não ter cedido às pressões.
Também não estou
levantando a bandeira de cruzarmos os braços e não ajudar quando se faz
necessário, de não participarmos da comunidade da qual fazemos parte, de
fecharmos os olhos para o que acontece à nossa volta e carece de atenção, do que
exige nosso amor e cuidado para com o nosso semelhante, de repartir, de dar
socorro a quem solicita... Não! Estou defendendo o direito de quem quer ficar de
fora quando o momento exigir calma e reflexão, o de ir à luta quando achar que é
a hora, mesmo que não seja para ficar de nenhum lado e, sim para costurar a sua
própria bandeira.
Os mineiros (nascidos em Minas Gerais), têm a fama de
estar sempre em cima do muro. Injustiça: fui criada entre eles e sei que é um
povo calado, observador, desconfiado, que dificilmente mete os pés pelas mãos,
mas age quando o momento exige, como explica o escritor Roberto Drumond: “Os
invejosos, os que não receberam a dádiva divina de em Minas nascer, gostam de
folclorizar o mineiro. Aí dizem: O mineiro está sempre em cima do muro! Mas eu
pergunto: Tiradentes estava em cima do muro? Mais uma vez pergunto: Juscelino,
que enfrentou os militares, que vetaram sua candidatura, e depois foi cassado,
aprisionado, exilado, alguma vez esteve em cima do muro?”
O que é “ficar
em cima do muro”? É não aceitar imposições sobre ideias e ideais? É ter vontade
própria? É poder escolher e repensar o momento da decisão? É ter dignidade e
educação? É não comprar brigas alheias por não reconhecer nelas motivos válidos
para “bater boca” e, de sobra, ainda ser apontado como criador de confusão, além
de ganhar inimigos? É renunciar, por amor aos filhos e à família? Ora, temos
livre arbitrio para aceitar ou não as oportunidades e/ou problemas que batem à
nossa porta e arcar com as responsabilidades das decisões tomadas. Que os
“patrulheiros de plantão” nos atirem todas as pedras, mas, não conseguirão
abalar o alicerce do nosso respeito à liberdade de escolha e de vida.
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Um comentário:
Aplausos Elen, excelente texto!
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