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terça-feira, 10 de setembro de 2013

O TEMPO E SUA ETERNIDADE - Elen de Moraes Kochman




O tempo e sua eternidade


Elen de Moraes Kochman


O tempo que movimenta pensadores, poetas, religiosos, historiadores, psicólogos e muitos mais, que não nos aflige quando jovens diligentes e sonhadores, no entanto, que nos  atormenta numa determinada altura da vida, quando sentimos o seu galope desenfreado e nos percebemos cansados para domá-lo, é um aliado para os otimistas e realizadores e um indiferente apressado para quem vive por viver e deixa a vida acontecer, sem prestar atenção à própria existência.



Com a finitude do Ser, terá o tempo um fim ou será o tempo a própria eternidade? Não raro me pego envolvida com esses questionamentos.


Antes me batia uma grande ansiedade nesses instantes de ponderações e como me furtava a entendê-los, sacudia os pensamentos, deixava a angústia bater asas, o cérebro  neutralizar as dúvidas e as explicações. Porém, fui me dando conta de que não adiantava fugir, porque o tempo torna-se um partícipe assíduo das minhas incertezas à medida que a vida avança e a idade se diverte com as marcas das expressões que me surgem, que vão dando ênfase ao meu rosto e ao meu corpo, e me enxergo no abraço desse tempo, sendo levada como nas águas de um dique que se rompe.


Atiça-nos a vontade de segurar o tempo ao darmos conta de que ele é escasso quando, com a agitação das grandes cidades, os dias correm, as noites voam, o corpo mal se adapta e descansa e a mente insone entra pela madrugada, acompanhada – e tão só – pelo silêncio das altas horas e os embates do cotidiano. Em contrapartida, a vida no campo, que passa em câmera lenta, com sua pasmaceira, do mesmo modo que nos dá a vantagem da contemplação, nos incita o desejo de movimentar e adiantar esse tempo.


Quando o filme da nossa vida começa a rodar e surgem as imagens de uma época que nos parece tão recente, mas tão longínqua, incomoda constatar que o tempo se alia à fragilidade do Ser para mostrar a nossa limitação. Nessas horas me vem à lembrança o sábio e famoso conselho que o poeta romano Horácio (65 a 8 a.C.) deu à sua amiga Leucone, (ODES -1,11.8- “...carpe diem, quam minimum crédula postero”): “...colha o dia de hoje, quanto confie o mínimo possível no amanhã”.  Por acreditar em vãs promessas e fazer planos para um futuro distante demais do hoje (e aguardar a sua chegada), é que perdemos parte da existência e da felicidade.

Por que adormecer os sonhos, postergando-os, à espera de dias melhores? Já agi assim e não tive frutos a colher. Então, hoje trago-os bem acordados! Se eles são os meus desejos possíveis, se só dependem de mim, quero, devo e tento realiza-los o mais breve que posso. Se não, troco-os por uma realidade mais à vista, porque não quero nada que me impeça de viver, plenamente, cada hora do meu aqui e agora.

Para quem cultua o presente, o tempo é música que canta para a vida que segue, é a consciência do instante, é o olhar sobre a natureza que desabrocha, é o sorriso da paisagem revisitada a cada manhã. Faz-me lembrar das palavras do meu Mestre, em Mateus 6.34: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal”.

O tempo não é o senhor absoluto do meu futuro, tampouco guardião do baú onde conservo lembranças e mágoas do que foi ou do que poderia ter sido e, sim, o amigo que permito acompanhar-me enquanto vivo. Digo, não sou mais escrava de um tempo marcado, de horas e minutos cronometrados. De mãos dadas - eu e ele - seguimos o curso natural da vida. Se ele tiver pressa, que se adiante e me deixe ao sabor dos meus momentos e sentimentos..

Há quem diga que o tempo é o vazio que sobra depois de tudo; outros, que é a consciência mais nítida do que acontece à nossa volta e há ainda quem afirme que é o elo entre o passado, o presente e o futuro. No entanto, para muitos que têm o privilégio de se debruçar sobre a janela do tempo, é o caminho inexorável cujo portal atravessam, com tranquilidade e aceitação, enquanto envelhecem. 

O tempo pode mudar a nossa aparência, deixar à flor da pele as nossas expressões de dores e alegrias, debilitar o nosso corpo, entretanto, não é capaz de nos tirar a juventude da alma, a esperança do coração, o prazer de viver, a firmeza do pensamento, o entusiasmo de nos apaixonarmos, a emoção de amar, enquanto nos achegamos à eternidade.





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