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domingo, 3 de agosto de 2014

Um povo surpreendente (Uma seleção nem tanto) - Elen de Moraes Kochman

Tribuna Portuguesa de 1º/08/2014



Um povo surpreendente                                          - Uma seleção nem tanto! -

Elen de Moraes Kochman

Não há nada que um bom apreciador de futebol não tenha, ainda, se inteirado sobre a Copa de 2014. Portanto não farei comentários sobre as seleções, quem jogou bem (ou bem mal), até porque desse esporte e suas regras pouco entendo. Entretanto vale lembrar o silêncio mortal que se abateu sobre o país nos momentos em que a seleção brasileira apanhava de inacreditáveis 7 x 1 da Alemanha. Tudo bem perder, já que nosso time, como diziam, não estava à altura de competir com os melhores, pela taça, mas aqueles gols, um atrás do outro, cinco em poucos minutos, pareciam “coisas do cão”! E doeu! Doeu muito! Para os que desejavam se livrar da lembrança do desastre de 1950 e exorcizar os fantasmas, vão amargar esse trauma por um longo tempo, além de suportarem as gracinhas - sem graça - dos “Hermanos” argentinos.

E se algum político brasileiro pretendia pegar carona no sucesso dessa nossa Seleção de Futebol, para se dar bem nas próximas eleições de outubro, teve que cavar, de acordo com as pesquisas, uma sepultura digna para os seus sonhos e digerir o pesadelo da uma provável derrota, pelo menos por enquanto, nos gramados da política.

Aqui entre nós (e a torcida do Flamengo), fale quem quiser e reclame quem se achar no direito e no dever, porém o povo brasileiro é mesmo surpreendente: não que tenha feito muito barulho por nada, não! Fez passeata contra a realização da copa, insatisfeito com os gastos e o superfaturamento na construção dos estádios, em detrimento da construção de escolas, hospitais e da segurança, assustando o mundo inteiro que passou a profetizar o caos durante o torneio; deixou a FIFA em polvorosa com os iminentes prejuízos, já que não se falava em outra coisa a não ser na isenção de impostos dada pelo Governo, que ela negava veementemente, afirmando não ter pedido nada, deixando entender que havia detalhes obscuros a serem esclarecidos; além das reclamações compartilhadas nas redes sociais, sem deixar de mencionar, infelizmente, os “black blocs” que, inicialmente, participaram do protesto de forma pacífica, mas que acabaram por depredar o patrimônio público e privado, incendiar ônibus e viaturas policiais, instalando o terror ao usar coquetéis molotov,  motivo pelo qual muitos estão presos e outros foragidos, com mandato de prisão.

Pois bem, esse mesmo povo, que assombrou os governantes e os responsáveis pela segurança, ao iniciar a copa deixou de lado os problemas internos, que só a nós, brasileiros, dizem respeito, e mostrou ao mundo, novamente, o nosso jeitinho carinhoso, educado e festeiro de receber os turistas. O que mais chamou a atenção dos nossos visitantes foram a festa e a alegria que reinavam por todos os lugares. Se entrevistados, enalteciam a simpatia do nosso povo, a torcida em campo e mesmo quando o Brasil perdeu, se acharam que nos fecharíamos em lamentos e lágrimas eternas, enganaram-se: enxugamos nosso pranto, ensaiamos nosso melhor sorriso amarelo, e fomos torcer! Para quem? Acredite se quiser, porém fomos torcer, sim, para quem nos tirou da copa de maneira tão humilhante: a Alemanha! Claro, porque torcer pelos “Hermanos” argentinos, jamais! Se se consagrassem campeões no nosso “Templo” do futebol, o Maracanã, iriam nos infernizar com suas brincadeiras por séculos e séculos.

Os alemães nos conquistaram desde o início, com o seu marketing: queriam ser o segundo time mais popular da copa no Brasil e numa “grande sacada” envolveu o Flamengo, time com maior torcida por aqui. Criaram uma camisa rubro-negra e com ela jogaram duas vezes; bombardearam as redes sociais pedindo para que torcêssemos por eles; declaravam constantemente o quanto estavam agradecidos ao Brasil por termos feito a “copa das copas” (sinceramente, acho exagero). E foram além das palavras: idealizaram e financiaram um projeto social para os menores no Brasil, chamado “Sonhos de crianças” (15 ao todo), com 500 mil euros investidos; com a organização do “Campo Bahia”, eles bancaram a reforma do  campo de futebol do vilarejo e doaram 10 mil euros para os índios da Aldeia Pataxó, de Coroa Vermelha, para comprarem uma ambulância. E digno de nota foi a dança indígena que a Seleção tetracampeã fez em volta da Taça, ao desembarcarem na Alemanha.

Os alemães colocaram Santa Cruz Cabrália, Bahia, no mapa turístico do planeta, depois de conviverem - por mais de 40 dias - com pescadores e índios, nessa pequena aldeia (e mostrá-la ao mundo através de vídeos), um ilhéu chamado Coroa Vermelha, na baia Cabrália, onde Cabral, em 1500, ancorou suas naus, ao descobrir o Brasil.






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