"Somethings in the rain" - playlist da série

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

PÁGINAS DA VIDA - Elen de Moraes Kochman


 Deixo-lhes um artigo que escrevi para o jornal 
TRIBUNA PORTUGUESA (http://www.tribunaportuguesa.com), 
em 2010, mas um assunto sempre atual. 
Espero que gostem!

PÁGINAS DA VIDA


Elen de Moraes Kochman

Não pretendo fazer explanação científica sobre “Recordações, Intelecto, Mente Consciente, Mente Divina”, etc, porque não tenho formação para tanto e muito menos informações suficientes, como Tor Norretranders, jornalista da ciência. No seu livro “User Illusion: Reduzindo a Consciência de Tamanho”, cita estudos e pesquisas, inclusive do professor Benjamin Libet, da Universidade da Califórnia, São Francisco, e mostra que decisões são tomadas antes que a Consciência as tome e que o intelecto não é sabedor disso, acreditando que ele decide. 

O que me proponho, portanto, é falar sobre erros e acertos, involuntários ou não.

Uma música, uma poesia, um cheiro, uma foto e de repente nossas lembranças viajam, sem conseguirmos conter as rédeas dos pensamentos, em busca de lugares perdidos e das pessoas que participaram da nossa vida em algum momento, mas que deixamos escapar, como as folhas carregadas pela ventania, nos dias chuvosos de outono.

O tempo nos atropela, muitas vezes, porque ficamos parados em seu caminho, pensando numa melhor solução para nossos problemas, enquanto a vida se movimenta. E outras vezes, ao contrário, tanto corremos que passamos por cima dos nossos sonhos e das pessoas que nos querem bem, sem nos importarmos se as machucamos ou se as afastamos, no afã de experimentar novas emoções, em busca do sucesso, de uma vida melhor, diferente. Entretanto, na maior parte do tempo, o que conseguimos é correr atrás do vento.

O que dizer, então, de quem usamos para conseguir nossos objetivos, premeditada ou involuntariamente? Quando essas recordações congestionam nossa mente e apertam nosso coração é o sinal vermelho para não trafegarmos por essa extensa e perigosa avenida que é o nosso egoísmo. Embora o egoísmo seja justificável quando se trata de uma saudável competição, ele é um desastre para a convivência afetiva, com nossos amores, amigos e familiares. Uma pessoa egoísta não vê e não se importa com o que o outro sente, pensa ou gosta. Ela acredita, absolutamente, que está certa nas atitudes tomadas e jamais volta atrás, não sabe pedir desculpas, não sabe perdoar, não se arrepende do que faz e se sente remorsos, nunca demonstra.

Viver não é fácil, sabemos. Não é só uma sucessão de dias e anos que nos empurram em frente, até o fim. Viver é uma aventura maravilhosa se planejarmos nossa “viagem”, levando em conta os prós e os contras e se nos decidirmos pelas melhores estradas, mesmo que o tempo se torne mais longo, até alcançarmos nosso objetivo.

O que vivemos até aqui são águas passadas, tudo bem, mas é a nossa história. Se fomos infelizes e trazemos isso no rosto estampado, se da nossa luta pela vitória ficou nos lábios um grito abafado, se à nossa volta as pessoas se calavam quando precisávamos de uma palavra amiga, se aos nossos filhos não soubemos amar e nos dar como precisavam, se a dor do nosso semelhante não nos tocou o coração e não nos fez derramar lágrimas de solidariedade, se as decepções sofridas abriram feridas dolorosas demais, a ponto de não as conseguirmos esquecer, se os amores que passaram por nossa vida só nos magoaram e nos trouxeram tristezas, infelizmente, nada mais podemos fazer, porque não podemos, nessas páginas viradas, reescrever os nossos sonhos perdidos e delas não podemos apagar os erros cometidos. Também não conseguiremos substituí-las, porque sabemos que o que de bom ou de ruim fizemos, ficou escrito e marcado, no coração e na alma dos que, um dia, nos amaram e, quem sabe, nos amarão para sempre, em silêncio.

Agora, o que vale é preenchermos, acertadamente, as folhas em branco que nos sobraram. Se não podemos refazer a caminhada, podemos - devemos - alterar o próximo percurso e tentar melhorar o nosso desempenho, para lograrmos êxito na etapa final. Mudar conceitos e preconceitos. Deixar de lado o que achávamos certo e nunca funcionou. Recomeçar, sem medo de errar, todavia prestando atenção para não cometer os mesmos erros e sofrer ao ver que o tempo não será suficiente para consertá-los.

Devemos olhar melhor à nossa volta: tantas pessoas invisíveis que nos cercam com seus olhares suplicantes e tantos lábios trêmulos, com meio sorriso aberto, quem sabe, esperam, hoje, um gesto nobre, aquele que deixamos de fazer e que em função disso também não o fizeram. Não esperemos que tomem a iniciativa. Os mais fortes e generosos a tomam primeiro. Muitos têm esse privilégio, porém, poucos sabem aproveitá-lo.

Bom seria se, ao tomarmos consciência do papel que desempenhamos, entendêssemos a nossa transitoriedade e que o restante da nossa jornada fosse feita de mãos dadas com o amor, a ternura, a compreensão, a generosidade e, sobretudo, com a aceitação do nosso EU, bem como a do nosso semelhante. Estaríamos, assim, escrevendo as melhores páginas da nossa vida. 



  
  

6 comentários:

Eugenio Bezerra disse...

Realmente, minha querida Borboleta Poeta, como você o diz "...não podemos, nessas páginas viradas, reescrever os nosso sonhos perdidos, e delas não podemos apagar os erros cometidos. Também não conseguiremos substituí-las, porque sabemos que o que de bom ou de ruim fizemos, ficou escrito e marcado, no coração e na alma dos que, um dia, nos amaram e, quem sabe, nos amarão para sempre, em silêncio." Excelentes, essas suas reflexões, o que não é surpreza, em se tratando da pessoa inteligente e sensata que é. Beijo afetuoso, de quem sempre lhe admirará!

Elen de Moraes Kochman disse...

Querido amigo Eugenio, creia, a admiração é recíproca! E gosto muito quando vc faz uma pausa no seu tempo corrido e vem dar um "alô"! Obrigada! Beijo e linda tarde!

poesiaosabordovento.blogspot.com.br disse...

Muito bem escrito, como sempre. És um ás na palavra quer seja escrita ou falada. Parabéns
José Raposo

Elen de Moraes Kochman disse...

Caro José Raposo sei que não querias tanto anonimato assim! rssss
Obrigada pelo simpático comentário!
Ás és tu! Por isso cativas tantos leitores no Tribuna Portuguesa, tanto os que te gostam, quanto os que nem tanto...
Grande abraço. Beijo.

poesiaosabordovento.blogspot.com.br disse...

Fazes-me rir. Quando o meu ultimo artigo vier à luz do dia. Se eu não for excomungado desta vez nunca mais serei ahahahahahaha


José Raposo

Elen de Moraes Kochman disse...

Ai, não me digas que implicaste, de novo, com a Igreja! Com as bandeiras de cabeça para baixo? Vá se "confessar" homem! rsss
Bjs.

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